Abaixo do solo existe esperança. Abaixo do solo existe coragem. Setecentos metros abaixo de nós trinta e três heróis lutam pela vida. Vida que na superfície parece extinguir-se, suprimida, sufocada.
Estes heróis serão arrebatados. Trazidos de volta para a luz. Mas cá entre nós, qual dos dois lados está verdadeiramente no escuro?
O Atacama, assim como o resto do mundo, é frio e desértico. Inóspito como o coração humano. Da tragédia saltam os holofotes, a melhor imagem pode valer um prêmio. É a nova sociedade midiática. Desafie a morte e amanhã a sua história pode virar filme. De onde vem tanta ânsia por desgraças? Tudo é circo e nada tem graça. Olho para o lado e vejo uma mulher chorando. Será mãe ou esposa? Filha? Talvez. Quem se importa?
Quem será o último a sair? Será que ele baterá algum recorde? Escrever o seu nome em um livro idiota como o último infeliz a sair de um buraco. Quanta honra, quanta mediocridade!
E quando tudo isso acabar? Quem sabe um avião caia ou, talvez, um novo ataque terrorista aconteça. Estou de estômago embrulhado. Quero vomitar minha humanidade por que ela está podre em minhas entranhas. Estou soterrado em mim, como os mineiros de lá. Mas mesmo há setecentos metros abaixo ainda existe esperança. E quem sabe dentro de minha alma, mesmo que há setecentos metros abaixo a minha esperança também não procure emergir.
Vale a pena acreditar.
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