quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Devaneios




 Como é difícil ser dono de si! Ter que governar-se em meio a um mundo sem governos. E assim, vou criando as minhas próprias leis, minhas normas ditatoriais, caprichos tolos de um monarca governante de um só súdito. Meu palácio é tão estreito que por vezes vaga perambulante dentro da minha caixa craniana. Sento em meu trono moldado em lembranças e sinto-me feliz, pois, ali desfruto do meu verdadeiro tesouro. Meu reino não é externo, nem extenso. Tudo isso só é real dentro dos limites do irreal.
 A coroa me pesa sobre a cabeça. Quero tirá-la, jogá-la ao longe, mas não posso, pois, ainda tenho que conduzir o meu exercito de um homem só.
 O rei está nu. Sente-se acuado pelos inimigos que o invadem por todos os lados. Seu único súdito também é o seu único amigo. São as mesmas pessoas, tem os mesmos sonhos e, ainda assim, permanecem bifurcados por um id que os transmuta entre médico e monstro.
 O rei decreta: “É proibido sofrer.”
 O súdito obediente suprimiu-se até que sua alma abandona seu corpo. Alma precisa sentir. Isto é a alma da alma, sem sentimentos ela perde o propósito e vira sombra que não se vê.
 Quantas vezes exilaram-me! E estando fora de mim passei a procurar pela liberdade em outros domínios tão mais distantes do meu. Tudo fora em vão, pois, só pode sentir-se livre aquele que não se distancia da liberdade que já tem.
 Quanta fome já senti! Fala agora o subalterno que reside ainda em mim. Em quantas portas já bati em meu interior do meu interior a procura de um conhecido que, de certo modo, nem sabia se ainda existia.
 Quantas vezes já fui rei, quantas vezes artesão!
 Em quantos acertos errei. E em quantos erros então?
 Mas sei que valeu a pena. Sempre valerá!
 Rei ou plebeu, viver é sempre melhor que tudo.
 Vida é riqueza que todos têm, mas que poucos sabem cuidar.
 Não temo a sorte adiante, pois, o que vem ainda não há.
 Sigo sem olhar para trás.
 O que passou não mais passará.





Nenhum comentário:

Postar um comentário