quarta-feira, 30 de março de 2011

Meu Mundo Melhor



  Por favor, me apresentem um mundo melhor.


  Um mundo onde a natureza seja respeitada e as crianças não sejam violentadas. Onde as mulheres possam ser mulheres longe dos riscos de serem humilhadas. Um lugar onde sonhar não seja proibido e realizar seja dividido entre todos que sonharem.


  Por favor, me apresentem um mundo melhor.


  Onde a esperança arvoreça em cada coração vivente. Onde os homens sejam realmente humanos independentes das diferenças aparentes. Um mundo onde não precisássemos clamar por paz, pois já a teríamos naturalmente.


  Por favor, me apresentem um mundo melhor.


  Onde a tolerância seja maior que as guerras evitando mortes em nome de deuses, ideais ou terras. Onde não houvesse fronteiras separando povos ou pirâmides sociais classificando pessoas dividindo-as entre ricos e pobres. Onde não necessitássemos de grades ou correntes, pois o valor da liberdade nunca mais estaria ausente. Um mundo sem tiros, sem tiranos, sem ditadores para ditarem horrores. Um mundo sem repartições desiguais, onde tudo fosse de todos e todos fossem parte de tudo.


  Um mundo sem muros, sem muralhas intransponíveis, um mundo de acessos, sem excessos. Um mundo sem câmeras escondidas, sem janelas blindadas, onde famílias passeassem pelas ruas e casais namorassem nas calçadas.


  Por favor, façamos este mundo melhor. Porque o mundo não é feito de rocha, mas de gente. Este mundo que idealizo pode existir realmente. Depende apenas de nós: plante uma árvore, ajude um vizinho, afague um carente, visite um asilo, alimente um faminto, doe mais sangue... Ame, ame, ame, simplesmente ame.


  Para fazermos este mundo melhor.





sexta-feira, 25 de março de 2011

Fim de Turno

  Escrevi este conto como forma de protesto por tanta impunidade e injustiça. Aos que lerem peço desculpas, mas não encontrarão nada de novo em suas linhas, ao menos nada que não encontrariam nas folhas de cotidiano de qualquer jornal diário. Infelizmente é assim.








  20 de Abril 2010.




  Sete horas da manhã.


  O sargento Simões chega ao quartel de policia para mais um dia de trabalho. Após as respeitosas continências é cumprimentado de maneira menos protocolada por seus valorosos companheiros de farda.
  Todos estavam felizes, pois, aquele não era mais um dia comum na carreira militar de Antonio Carlos Simões, este era o seu nome de batismo ou, simplesmente Carlão para os familiares e amigos mais próximos. Carlão ou, melhor, sargento Simões estava completando vinte anos de carreira policial. Muito ético em seus atos e conhecedor de cada nuance existente em sua profissão sempre demonstrou-se disposto e honrado em carregar no peito as insígnias de sua tão amada policia militar. Dizem pelos corredores que ele será promovido. Pois bem, ele merece.


  Nove horas da manhã.


  Piquete era mais um desses infelizes de quase dezoito anos que vive arrumando confusão pelas ruas da cidade. Sente-se protegido por lei, não da maneira como deveria ser e, para dizer a verdade o termo certo não seria proteção mas, acobertamento.
  _ Aí senhor! Eu sou “de menor” – Dizia ele a cada vez que era apanhado por qualquer policial que o pegasse aprontando. Fazer o que se os nossos representantes legais insistem em não instituir as leis necessárias para quebrarmos este escudo invisível que impunemente os protege? Mas voltando ao nosso assunto; Piquete era morador da favela dos macacos e durante o último confronto entre traficantes rivais o comando do local havia trocado de mãos. Pior para ele que ficara devendo uma quantia considerável para o novo comandante da bocada. – Apenas um aparte, não soa estranho o fato de nos referirmos a um marginal como comandante de qualquer coisa que seja? – Fato é que Piquete estava agora frente a frente com o diabo tentando negociar a sua divida, ou melhor, negociando a sua vida.


  Piquete correu para os fundos da casa e embaixo de um buraco tapado com uma pedra estava a sua solução: Um revolver trinta e oito e seis cápsulas no tambor.


  Nove horas e trinta minutos da manhã.


  _ Minha patroa está preparando uma pequena festa hoje lá em casa para comemorarmos os meus vinte anos de farda. E quer saber o que é engraçado; ela pensa que eu não sei de nada, era para ser uma festa surpresa. – Comentava o sargento aos risos com o companheiro que dirigia a viatura.
  _ Bem, eu não ia falar nada, mas já que o senhor tocou no assunto, todo mundo no departamento já esta sabendo, aliás fomos todos convidados.
  _ Suzana é uma mulher sensacional! Tive muita sorte de ter me casado com ela. – A emoção invade os olhos de Antonio Carlos Simões - Mas e você, nunca pensou em se casar?
  _ Eu! Não, esse negócio de casamento é muito complicado, prefiro continuar avulso.
  _ Que nada soldado! Quem enfrenta todo o tipo de marginal por esta cidade não há de ter medo de dizer um simples sim perante um padre, não é? – Brincou o sargento.
  _ Não sei não sargento! Pelo menos dos bandidos eu tenho algumas chances de escapar. – E os risos invadiram toda a viatura cessando apenas com um chamado vindo pelo rádio.
  _ Sargento Simões na escuta.
  _ Vocês devem se encaminhar para a Rua do Ouvidor. Temos um assalto à mão armada em andamento. – Dizia o rádio em meio aos chiados.
  _ Ok central, copiamos. – Respondeu o sargento desligando o aparelho. – É hora do show garanhão, vamos ao altar. - E a viatura saiu cantando a melodia urbana com sua sirene estridente.


  Nove horas e trinta e cinco minutos da manhã.


  A primeira ocorrência do dia e tinha que ser justo um assalto à mão armada. O que aconteceram com os gatos presos em árvores? O mundo evoluiu rápido demais, os gatos aprenderam a serem macacos e os homens desaprenderam a serem humanos. É a teoria de Darwin ao contrário. Piquete estava lá. Olhos arregalados e perdidos, suor escorrendo sobre a testa e arma apontada para a fronte de mais um comerciante inocente. Cumpria o seu papel de vilão e, sem mais o que fazer, apenas aguardava a chegada dos mocinhos.


  Nove horas e trinta e sete minutos da manhã.


  A viatura que conduzia o sargento Simões chega ao local. Uma farmácia localizada há poucos metros de uma escola, o que sem sombra de dúvidas era uma situação extremamente favorável para o azar.
  Apontar uma arma para qualquer individuo sem dar a ele nem a mínima chance de defesa é uma das piores covardias que um homem pode cometer.
  _ Bem, vamos ao trabalho! – Exclamou o sargento.


  Sargento Simões era um dos negociadores mais experientes da policia. Já havia contornado dezenas de casos como este evitando com extrema habilidade qualquer uso de força, o que sempre era bom para todos os lados, pois garantia a volta pra casa.


  Nove horas e quarenta e cinco minutos da manhã.


  A conversa entre policia e bandido não estava surtindo os resultados esperados. A tática agora era conversar de Carlão para Piquete, ou, de homem pra homem, como costumamos dizer.
  _ Meu amigo eu estou aqui para te ajudar. Me entregue esta arma e solte estas pessoas, acredite, esta é a melhor coisa que você pode fazer.
  _ E quem me garante que se eu fizer isso eu não vou levar uma azeitona na cara. – Respondeu um assustado Piquete.
  _ Fique tranquilo, ninguém esta aqui pra te esculaxar não. Só queremos que você faça a coisa certa.
  _ Não vem com esse papo pra cima de mim não doutor. Não tem saída, to fodido, sem conversa. Se eu não levo essa grana lá pro morro os cara vão me colocar no micro-ondas.
  A situação era completamente tensa.


  Dez horas, onze horas, meio dia... E a vida parecia parada como se estivesse quebrada.


  Doze horas e onze minutos.


  Piquete interrompe as negociações. Ele se dirige mais para dentro da farmácia quebrando o contato visual que mantinha ate agora com o sargento.


  Doze horas e quatorze minutos.


  Um estrondo. Pássaros que se escondiam em meio às árvores sobrevoam assustados.
  A situação acabara de atingir o seu ápice.


  Doze horas e quinze minutos.


  O sargento invade.


  Trinta segundos depois, outro estrondo que foi se seguindo de outro e mais outro...


  Seis tiros no total.


  22 de Abril 2010.




  Nove horas da manhã.


  Soldados perfilados trajando fardas de honra empunham suas armas e disparam em direção ao chão. O toque do silêncio soa tão triste quanto os nossos corações.


  Mais um herói tombou.


  10 de Setembro de 2010.



  Meu relógio parou.


  Em um barraco simples no morro dos macacos uma casa estava toda iluminada. Juliano dos Santos Silva, mais conhecido como Piquete acabara de completar dezoito anos de idade.


  Ele fez um pedido, soprou as velas e sorriu.




sábado, 19 de março de 2011

Coletivo




  Qual é o coletivo de solidão?
  Espera ai! Solidão não tem coletivo.
  Seria o mesmo que perguntarmos
  Qual é o conteúdo de um vazio?
  Seria o nada?
  A ausência? Talvez...
  "Taí"! Coletivo de ausência
  É solidão.





quarta-feira, 9 de março de 2011

P...




  Povo pelego, penalizado, perseguido, periclitante. "Povinho"! Por que pedem pequenas partículas a poucos poderosos? Por que as pegam? Por que as pagam? Povo por que pecam? Parecem pedir passagens para procurar paraísos perdidos. Pelo que procuram?
  Povos pobres de países provincianos, permanentemente provando pastagens na ponta da pirâmide punitiva. Paupérrimos, privados, postergados. Praticamente primitivos. Pulem páginas... Procurem por paragens, paisagens sem prantos.
  Presidentes, por que punem seus povos? Por que pisam pessoas pequenas pisando passos pesados? Praticamente pés por pedras, pensem! O poder da pena é para poucos. Pena! Porém, precisamos prosseguir, procriemos. Parteiras e partos povoando o planeta produzindo proventos, pois o patrão precisa, preço do progresso. Quem paga o "pato"? Quem põem no prato?
  Pessoas presas a papéis pilhando prateleiras permanentes. Poderes parados, projetos pendentes.
  Precisamos propagar. Precisamos de pílulas para podermos planar. Passar por problemas psicológicos que pregam peças perigosas.
  Passado, presente, por onde passam?
  Parem com promessas de prazeres proibidos. Presidiários perigosos, presídios. Paredes protegidas por policiais pífios, previamente preparados.
  Prédios primorosos, pedestres perturbados parecendo prever por perigos.
  Partidos políticos politicamente perfeitos, porém, patéticos, perdidos.
  Padres, pastores, pregadores pregando palavras pedindo por paz. Paz pouca, perdida procurando pousada. Por que não pousa?
  Passarelas e pontes, palácios primários pernoitando pais e prole. Por que?
  É a pátria sem pernas perante pessoas sem passos.
  Precisamos pensar.