sexta-feira, 9 de setembro de 2011

"Desconstrução"




 "Desconstruo" o futuro. Crio a partir dele um novo monstro que talvez um dia até me devore. Do meu ventre o feto; deformado, anencéfalo. Eu o escarro para fora de mim antes que ele me devore para dentro dele.
 Sobre as cabeças rachadas sobrevoam os automóveis, pássaros modernos. Tudo se tornou demasiadamente grande, somente eu encolhi.
 Nenhuma poesia existe, não necessitamos mais das palavras. Amigos? Só os imaginários. A solidão tornou-se nossa maior companhia.
 Cego os meus olhos para não ver o presente. Temo o futuro que virá após o futuro.
 Os dias são frios pela falta de calor humano, enquanto os robôs continuam nos processando, colhendo dados, imagens e até mesmo vidas. Eles sugam nossas almas e as transformam em códigos, muitas vezes indecifráveis a nós. Inversão de valores; máquinas cada vez mais humanas controlando homens guiados por controle remoto. Desligam-nos, ligam-nos, fazem beckup de nós.
 Não temos mais nomes, tornamo-nos números. Nosso cérebro encolheu-se ao tamanho de um cartão de memória. Deletam a nossa história sem a menor cerimônia.
 Quem fui outrora? Quem sou agora?
 Navegar é preciso, viver é apenas um detalhe.
 Nossos filhos já nascem cibernéticos, crescem conhecendo o mundo sem conhecerem a si próprio. Fazem amigos de todas as partes do planeta e desconhecem os seus vizinhos de muro.
 Nossos braços se tornaram cabos, abraços com plugues.
 Corremos em círculos em um mundo que gira na velocidade da luz deixando-nos tontos com suas ultra-novidades. O obsoleto foi criado ontem. Comprem o futuro. Este sim é original! Mas seja rápido, pois amanhã ele já estará fora de moda.
 O universo não é mais tão grande. Planejamos conquistar novos planetas, quem sabe não encontramos outro para destruir.
 Cyborgs caminham entre nós. Máquinas com pele de gente. Seguram um copo, constroem outras máquinas, mas não são capazes de amar, não produzem lágrimas ou sentimentos. Isso porque coração é matéria orgânica, não tem engrenagens. Prefiro o quente ao frio.
 Já não existem doenças. Homens múmias se arrastam por todos os lados a procura da morte, pois ignoramos o tempo.
 Contudo, não sou contra o progresso, nem tampouco, contra a ciência. Apenas penso que o homem deva prevalecer como principal invenção.





2 comentários: