segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Grito - Parte 4.



O discurso da presidenta Dilma Rousseff, como não poderia deixar de ser, agradou a base governista, não comoveu a oposição e ainda deixou uma duvida pairando no ar: será que calará o povo revolto nas ruas? Eu particularmente creio que não. E, por favor, não me tomem por reacionário, muito pelo contrário, apenas creio que o povo esteja cansado de tantas falácias. 

Dilma enxergou os manifestos das ruas como sendo representantes da força da nossa democracia. Eu concordo com a presidenta, mas vou além, isso não representa apenas a força da nossa democracia, mas o ressurgimento da nossa brasilidade. Afinal, para que de fato a democracia possa acontecer é necessário que também exista o direito e, principalmente, o desejo de reivindicar.

A presidenta utilizou quase cinco dos dez minutos da sua aparição para pedir ordem nos protestos, o que obviamente se louva, afinal, democracia sem ordem vira orgia popular. Mas um dos pontos mais relevantes do discurso foi quando a líder do país alçou convocar a classe política para uma reflexão em torno da melhoria dos serviços públicos, onde foram destacados três pontos nevrálgicos a serem trabalhados:

1º) A implantação de um programa de mobilidade publica nacional: vale lembrar que já fazia parte de uma promessa de campanha da nossa presidenta um programa tal como este, e mais, sua implantação tinha a previsão para antes da Copa das Confederações. Neste tempo tomo como referencia uma noticia divulgada no site G1 do dia 18/07/2012. A reportagem em questão dava conta de que o Governo Federal, naquela ocasião, havia liberado sete bilhões de reais para o chamado PAC da Mobilidade, medida que contemplaria setenta e cinco municípios e dezoito estados da federação. Então pergunto: e o dinheiro? Também respondo: ninguém sabe ninguém viu. Deve ter virado fumaça de carburador;

2º) A destinação de cem por cento dos royalties do petróleo para a educação: esta sim seria uma medida de extrema importância para a educação do país. Entretanto, não basta ter apenas dinheiro, mas também uma gestão proba dos recursos aplicados. Tirar os royalties do petróleo e investi-lo na educação sem uma fiscalização rigorosa seria o mesmo de tirar dinheiro das mãos da máfia petrolífera e repassá-lo para a máfia das escolas, ou seja, é a velha politicagem do “tudo de novo e nada de novo”;

3º) A importação de médicos estrangeiros para atuarem no SUS (Sistema Único de Saúde): Ora, que me perdoe a presidenta. O maior problema do nosso sistema público de saúde não é a nacionalidade dos médicos que nele atendem, ao contrário, se o país tem este recurso para custear uma mão de obra tão cara do estrangeiro, não seria mais proveitoso utilizá-la para valorizar e melhor remunerar os médicos daqui? Talvez até sobrasse alguns vinténs para aprimorar o atendimento e reestruturar os alicerces deste sistema, hoje tão precário e desumano.

E por fim, o circo, ou melhor, a Copa. Dilma Rousseff após uma dissertação à cerca da sua severidade contra a corrupção alegou que jamais aprovaria qualquer desvio de moeda pública para a construção de arenas. Disse ainda que todo o recurso federal para este fim é matéria de financiamento que, segundo suas palavras, serão devidamente restituídos à nação. Agora sejamos maldosos, porém justos: É rigorosamente incompatível falar de combate à corrupção e Copa do Mundo no Brasil na mesma frase. Haja vista que em 2007 quando o país ganhou o direito de sediar o evento, a previsão de investimentos era de vinte e três bilhões de reais e hoje, faltando ainda pouco menos de um ano para o inicio da competição os gastos já somam o absurdo de 28 bilhões de reais. E alguém ai viu alguma melhoria em aeroportos, mobilidade publica, educação, ou em qualquer outro setor realmente relevante para a população? Agora, se o valor empregado nos estádios será realmente devolvido aos nossos cofres somente o tempo dirá. E podem aguardar governantes e aproveitadores de plantão, pois o tempo nunca se cala.

Quanto aos manifestos que dominaram as ruas do país, Dilma prometeu abrir um debate amplo e democrático com todas as lideranças do movimento a fim de ouvir e, na medida do possível, atender aos anseios mais latentes da população. Fato raro, poucas vezes visto antes em terras tupiniquins e que, portanto, não deve em hipótese alguma ser esquecido pela historia.

Eu, brasileiro, tenho hoje trinta e três anos de idade. Vi com olhos de menino que, ainda inocente, não entendia direito o significado daquela multidão que em mil novecentos e noventa e dois derrubava um presidente. Após este episódio veio o marasmo. Parece que o Brasil parou no tempo e a juventude Malhação, da qual também fiz parte, silenciou-se, não sei se por revolta ou por pura alienação política, o fato é que passamos por duas décadas onde aparentemente ninguém tinha nada a dizer.

E hoje cá estou. Homem feito e consciente, feliz em ser um pequeno sussurro em meio às milhares de vozes que com todo o sentido do saber bradam por um Brasil melhor.



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