O
discurso da presidenta Dilma Rousseff, como não poderia deixar de ser, agradou
a base governista, não comoveu a oposição e ainda deixou uma duvida pairando no
ar: será que calará o povo revolto nas ruas? Eu particularmente creio que não.
E, por favor, não me tomem por reacionário, muito pelo contrário,
apenas creio que o povo esteja cansado de tantas falácias.
Dilma
enxergou os manifestos das ruas como sendo representantes da força da nossa
democracia. Eu concordo com a presidenta, mas vou além, isso não representa
apenas a força da nossa democracia, mas o ressurgimento da nossa brasilidade.
Afinal, para que de fato a democracia possa acontecer é necessário que também
exista o direito e, principalmente, o desejo de reivindicar.
A
presidenta utilizou quase cinco dos dez minutos da sua aparição para pedir
ordem nos protestos, o que obviamente se louva, afinal, democracia sem ordem
vira orgia popular. Mas um dos pontos mais relevantes do discurso foi quando a
líder do país alçou convocar a classe política para uma reflexão em torno da
melhoria dos serviços públicos, onde foram destacados três pontos nevrálgicos a
serem trabalhados:
1º) A implantação de um programa de mobilidade publica
nacional: vale lembrar que já fazia parte de uma promessa de campanha da
nossa presidenta um programa tal como este, e mais, sua implantação tinha a
previsão para antes da Copa das Confederações. Neste tempo tomo como referencia
uma noticia divulgada no site G1 do dia 18/07/2012. A reportagem em questão
dava conta de que o Governo Federal, naquela ocasião, havia liberado sete
bilhões de reais para o chamado PAC da Mobilidade, medida que contemplaria
setenta e cinco municípios e dezoito estados da federação. Então pergunto: e o
dinheiro? Também respondo: ninguém sabe ninguém viu. Deve ter virado fumaça de
carburador;
2º) A destinação de cem por cento dos royalties do petróleo para
a educação: esta sim seria uma medida de extrema importância para a
educação do país. Entretanto, não basta ter apenas dinheiro, mas também uma
gestão proba dos recursos aplicados. Tirar os royalties do petróleo e
investi-lo na educação sem uma fiscalização rigorosa seria o mesmo de tirar
dinheiro das mãos da máfia petrolífera e repassá-lo para a máfia das escolas,
ou seja, é a velha politicagem do “tudo de novo e nada de novo”;
3º) A
importação de médicos estrangeiros para atuarem no SUS (Sistema Único de
Saúde): Ora, que me perdoe a presidenta. O maior problema do nosso sistema
público de saúde não é a nacionalidade dos médicos que nele atendem, ao
contrário, se o país tem este recurso para custear uma mão de obra tão cara do
estrangeiro, não seria mais proveitoso utilizá-la para valorizar e melhor
remunerar os médicos daqui? Talvez até sobrasse alguns vinténs para aprimorar o
atendimento e reestruturar os alicerces deste sistema, hoje tão precário e
desumano.
E
por fim, o circo, ou melhor, a Copa. Dilma Rousseff após uma dissertação à
cerca da sua severidade contra a corrupção alegou que jamais aprovaria qualquer
desvio de moeda pública para a construção de arenas. Disse ainda que todo o
recurso federal para este fim é matéria de financiamento que, segundo suas palavras,
serão devidamente restituídos à nação. Agora sejamos maldosos, porém justos: É
rigorosamente incompatível falar de combate à corrupção e Copa do Mundo no
Brasil na mesma frase. Haja vista que em 2007 quando o país ganhou o direito de
sediar o evento, a previsão de investimentos era de vinte e três bilhões de
reais e hoje, faltando ainda pouco menos de um ano para o inicio da competição
os gastos já somam o absurdo de 28 bilhões de reais. E alguém ai viu alguma
melhoria em aeroportos, mobilidade publica, educação, ou em qualquer outro
setor realmente relevante para a população? Agora, se o valor empregado nos
estádios será realmente devolvido aos nossos cofres somente o tempo dirá. E
podem aguardar governantes e aproveitadores de plantão, pois o tempo nunca se
cala.
Quanto
aos manifestos que dominaram as ruas do país, Dilma prometeu abrir um debate
amplo e democrático com todas as lideranças do movimento a fim de ouvir e, na
medida do possível, atender aos anseios mais latentes da população. Fato raro,
poucas vezes visto antes em terras tupiniquins e que, portanto, não deve em
hipótese alguma ser esquecido pela historia.
Eu,
brasileiro, tenho hoje trinta e três anos de idade. Vi com olhos de menino que,
ainda inocente, não entendia direito o significado daquela multidão que em mil
novecentos e noventa e dois derrubava um presidente. Após este episódio veio o
marasmo. Parece que o Brasil parou no tempo e a juventude Malhação, da qual também
fiz parte, silenciou-se, não sei se por revolta ou por pura alienação política,
o fato é que passamos por duas décadas onde aparentemente ninguém tinha nada a
dizer.
E
hoje cá estou. Homem feito e consciente, feliz em ser um pequeno sussurro em
meio às milhares de vozes que com todo o sentido do saber bradam por um Brasil
melhor.
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